O setor de proteção veicular no Brasil passou anos convivendo com um cenário desigual: enquanto muitas associações trabalhavam com seriedade, transparência e fundo de reserva, outras operavam sem estrutura mínima, criando distorções que acabavam respingando em todo o mercado.
Com a sanção da Lei Complementar nº 213/2025, o país entra numa nova fase. A regulamentação da Susep exige governança, responsabilidade financeira e comprovação real de capacidade para pagar sinistros. Em outras palavras: quem é sério se adapta, quem não é vai precisar repensar o modelo ou sair de cena.
Mas esse período de transição também trouxe um efeito colateral. Empresas irregulares começaram uma corrida desesperada para captar clientes antes da fiscalização apertar, inflando carteiras que depois serão revendidas a quem estiver regulamentado.
O presidente da GRANDE MS, Saul Steil Júnior, alerta para uma das estratégias mais arriscadas que ganharam espaço: a promessa de indenização de 110% da Tabela Fipe. “Parece vantagem, mas não fecha a conta. A lei exige sustentabilidade financeira. Quando a associação promete pagar mais do que o veículo vale, o rombo vai para o bolso do associado”, afirma.
Segundo Saul, esses modelos dependem de entrada constante de novos associados para pagar sinistros antigos. “Se quebrarem, e já vimos isso acontecer, o prejuízo é todo do consumidor.”
Estrutura física e governança deixam de ser opcionais
Outro ponto-chave da nova regulamentação é a exigência de sede, equipe, governança e presença real no estado. Isso elimina o modelo conhecido como “proteção de pasta”, marcado por vendedores itinerantes, contratos sem lastro e ausência de atendimento quando o associado mais precisa.
“A regulamentação exige fundo de reserva por estado e uma estrutura que garanta segurança ao associado. Ter portas abertas e equipe própria não é luxo. É responsabilidade”, reforça Saul.
Como o consumidor se protege nesse momento de mudança?
Antes de fechar contrato, três perguntas fazem toda a diferença:
- A empresa tem sede na minha cidade? Ou apenas um número de outro estado?
- A oferta é coerente? Desconfie de 110% da Fipe, brindes milagrosos e mensalidades fora da realidade.
- A associação é transparente sobre a regularização? Organizações sérias já protocolaram seus documentos na Susep.
No fim das contas, a nova lei não veio para punir o setor – veio para separar quem trabalha com responsabilidade de quem construiu promessas sem sustentação.
E, nesse cenário, o consumidor é quem mais ganha quando escolhe empresas com estrutura, transparência e presença local.
Rod Ostemberg – DRTMS 623
